Assédio Não tem Graça. Assédio é Violência e Mata

18/03/2024 20/05/2024 15:49 518 visualizações

 Assédio Não tem Graça. Assédio é Violência e Mata 

 

  

 

Não é por conta do mês de março e do Dia Internacional da Mulher que trago esse assunto nestas breves linhas. Na verdade, até relutei para que não fosse apenas mais um tema jogado ao vazio, dada a gravidade que é essa “doença” do assédio em nossa Instituição Policial.  

 

  

 

Em outubro do ano passado, sediamos um evento nacional realizado em parceria com a FEIPOL-CON, onde o assédio moral e sexual e suas sequelas eram o tema principal das discussões ocorridas. Em uma brilhante campanha, a Federação, à qual o SINPOL-TO é filiado, abordou com coragem essa temática e trouxe luz a muitos aspectos desta covarde violência - e uma abordagem me chamou mais atenção: A OMISSÃO  

 

  

 

Após esse evento nos deparamos com uma história impactante dentro de nossa própria casa e estejam certos que isso nem de longe trata-se de um caso isolado.  

 

  

 

O Assédio não é algo engraçado! O Assédio, seja de qual natureza for, humilha, degrada, vilipendia a dignidade de suas vítimas e é cruel especialmente com nossas mulheres. O Assédio é um roteiro que desperta sentimentos e pensamentos em suas vítimas que se assemelham a uma violência sexual. Não é drama! É constatação. Esse tipo de afronta à dignidade de alguém dificilmente se repara, pois as marcas são profundas a ponto de machucá-las a nível físico.  

 

O Assédio dói.  

 

Dói emocionalmente, psicologicamente e fisicamente.  

 

O Assédio dói ao ponto de uma pessoa pensar em tirar a vida para se livrar da dor.  

 

Separei essas frases de um mesmo parágrafo para poder destacá-las e ver se nos comovemos com a dor “alheia”. Mas acho que isso, em regra, não acontece. Pelo menos não na maioria das vezes. No geral (existem exceções), seguimos insensíveis à está doença endêmica que se espalha e adoece policiais civis de todas as idades, sexo, cargos e responsabilidades. 

 

Em um filme impactante, chamado em português de “Tempo de Matar”, lançado em 1996, um personagem chamado Carl Lee é julgado por assassinar dois homens brancos que foram inocentados do estupro de sua filhinha. Inconformado e já prevendo a injustiça, o personagem interpretado por Samuel L. Jackson resolve fazer justiça com as próprias mãos e em seu julgamento, em um Estado de “supremacia branca”, juiz, promotor e jurados buscam aplicar nele a pena de morte. Mas o relato final é o que me leva a fazer menção a esta película tão famosa e, ainda hoje, relevante. (se prepare para o spoiler). 

 

Na chamada considerações finais, o “advogado branco” de Carl Lee, Jake Brigance, interpretado pelo talentoso Matthew McConaughey, já compreendendo ser praticamente impossível livrar seu cliente da pena de morte, pede para que os jurados fechem os olhos e resolve fazer um relato minucioso de como Tonya, filha de Carl Lee, foi covardemente espancada, urinada, feita como alvo de lances de cerveja, estuprada e ferida a ponto de ficar quase morta, jogada em uma estrada e com a impossibilidade, mesmo com apenas 10 anos, de ser mãe no futuro, de tão ferida que foi. Após esse comovente relato, Brigance encerra: “Conseguem vê-la? Eu quero que imaginem esta garotinha... Imaginem ela branca.”  

 

O filme é muito bom (recomendo), não estamos falando de preconceito ou racismo, mas a citação “meia boca” que uso de seu final apoteótico é apenas um contexto que desejo utilizar para conquistar um pouco mais de sensibilidade de meus pares para o mal do assédio moral e sexual, especialmente contra nossas mulheres... 

 

Imaginem uma mulher, concursada, dedicada ao seu trabalho, competente em suas atribuições e digna, assim como todos os seus colegas, de seu trabalho e seu salário. Essa mulher, por conta de sua postura gentil e dócil, passa a ouvir “gracejos” inoportunos sobre sua beleza, sobre o seu corpo etc. Mesmo incomodada, se sentindo humilhada e diminuída como profissional, essa mulher, buscando evitar mal-estar em seu local de trabalho, aceita calada tal investida repugnante. Não satisfeito, seu assediador ou assediadores passam a importuná-la com assuntos de cunho sexual, mesmo percebendo o constrangimento de sua colega. Esse comportamento inapropriado deixa a mulher, outrora sorridente, em uma postura introspectiva e fechada. Seu olhar brilhante, após meses e até anos nestas condições parece frio e por hora perdido. Por não ceder às investidas, seu assediador decide impor a esta uma condição de trabalho mais exigente e penosa. Sua competência questionada e seu valor profissional amplamente deteriorado por seu assediador (es). Angustiada só de pensar em ir ao trabalho, seu comportamento passa a ser disfuncional e emocionalmente desequilibrado. Não é mais a mesma filha, mãe ou esposa... Não é mais a mesma mulher. Sua dor psicológica e emocional ataca agora seu corpo... ela ganha peso, não se cuida mais, não cuida mais tão bem de sua casa e tudo que deseja em alguns de seus dias é sumir da face da terra. Uma mulher alegre e jovial se torna o espectro de um ser que sofre no corpo e na alma a dor de não ser valorizada, reconhecida e respeitada... 

 

“Lá está ela. Desfigurada, se sentindo desonrada, diminuída, humilhada e desprotegida. Sua dor vira doença e sua vitalidade foi sugada. Conseguem ver esta mulher? Eu quero que imaginem esta mulher... Imaginem ela como sendo sua mãe, sua esposa ou sua filha.” 

 

Será diferente o dia que nos importarmos uns com os outros. Será diferente quando a dor de um for a dor de todos. Será diferente quando pararmos de nos omitir, por qualquer motivo que seja, e começarmos a, de verdade, protegermos uns aos outros contra o mal do assédio moral e sexual dentro de nossas unidades policiais.  

 

Acontece com nossas mulheres policiais, mas acontecem com os homens, também. No entanto, não há dúvidas que as mulheres são as maiores vítimas. Não é uma situação simples de abordar, mas senti que era um momento bom para conclamar cada um de nossos policiais a acabarmos com o assédio em nossa Instituição, seja quem está lendo este texto uma vítima, testemunha ou agressor. O BASTA ocorrerá quando todos decidirem agir e nunca mais se omitir, mas a grande verdade é que, embora precisemos de todo um coletivo, essa decisão será sempre individual.  

 

  

 

Então, individualmente, podemos contar com você? 

 

  

 

CONTEM COM O SINPOL-TO! 

 

  

 

Assédio Não tem Graça. Assédio é Violência e Mata! E o Basta virá com sua decisão.  

 

  

 

Ubiratan Rebello – Presidente do SINPOL-TO e eu digo BASTA!!